sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Leia o artigo "São Paulo: dos CEUs ao inferno"

Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP)
Não precisamos morrer de amores pela ex-prefeita Marta Suplicy para dar razão às críticas que ela faz ao PT nem para reconhecer alguns méritos inegáveis da sua gestão, ainda mais se compararmos às atuais administrações petistas, tanto do prefeito Fernando Haddad quanto da presidente Dilma Roussef.

Marta assumiu a Prefeitura de São Paulo em 2001, herdando a terra arrasada deixada pelos antecessores Paulo Maluf e Celso Pitta, após um intervalo de oito anos da primeira gestão petista, com a prefeita Luiza Erundina, de 1989 a 1992. Deixou marcas e realizações importantes, como os CEUs, o Bilhete Único, o Vai e Volta, o Passa Rápido, o Leve Leite ampliado.

O PT que dava os primeiros passos no poder era outro, tanto com Erundina quanto com Marta. Com um histórico oposicionista exemplar, tinha credenciais para se contrapor à velha política representada por Maluf, Sarney, Collor & cia. A gestão Erundina enfrentou dificuldades pelo comportamento dos próprios petistas. No governo Marta, porém, os problemas foram se agravando. O PT se apropriou do malufismo, aliou-se aos políticos que antes combatia, aparelhou a máquina, loteou a administração. Surgia ali o modus operandi que, aperfeiçoado em Brasília, culminaria nos escândalos do mensalão e da Petrobras.

Hoje a melhor definição do PT vem da própria Marta: "Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar? Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas. É um partido cada vez mais isolado, que luta pela manutenção no poder. E, se for analisar friamente, é um partido no qual estou há muito tempo alijada e cerceada, impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais estou habilitada."

O desabafo - e até o seu possível viés eleitoral - não isenta Marta, como senadora do PT desde 2010 e ministra de Dilma Roussef até a sua reeleição, da responsabilidade de ter ajudado a eleger e a manter no poder o partido e as lideranças que hoje são alvo de suas críticas.

Mas nunca é tarde para a autocrítica e para uma correção de rumo. Marta segue os passos de figuras expressivas que deixaram o partido por discordar dos métodos e práticas petistas, como Marina Silva, Luiza Erundina, Heloísa Helena, Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, Hélio Bicudo (ex-vice de Marta), Soninha Francine, entre outros.

Assim como apostamos na dissidência aberta no plano federal (a candidatura presidencial de Eduardo Campos, depois Marina Silva) como alternativa viável e consistente para ajudar a erradicar o PT do poder, num movimento que seguimos construindo no bloco partidário formado por PPS, PSB, PV e Solidariedade, também vemos com bons olhos o deslocamento de Marta Suplicy do campo governista.

O petismo faz mal para São Paulo e para o Brasil. A ruindade da gestão Haddad é tão notável que, veja só, a primeira candidatura oposicionista que se apresenta é originária do próprio PT. Não é à toa o desespero que já toma conta do governo com a simples possibilidade de Marta se candidatar à Prefeitura em 2016. O povo paulistano não é bobo. Vai usar a arma que tem - o voto - para botar essa turma para correr! Basta!

Carlos Fernandes foi subprefeito da Lapa e preside o PPS paulistano.