quinta-feira, 24 de abril de 2014

Haddad e as bandeiras desbotadas e emboloradas

O prefeito Fernando Haddad (PT) inaugurou a sua gestão, há um ano e três meses, com uma base de apoio de pelo menos 43 entre 55 vereadores, suficiente para aprovar com folga qualquer projeto na Câmara Municipal de São Paulo e tratorar a oposição (aliás, o PT já fez isso várias vezes, como no aumento do IPTU, na derrubada da CPI do Transporte ou na suspensão da inspeção veicular).

Hoje, Haddad mal consegue reunir 28 parlamentares que garantem o quórum mínimo para aprovar projetos rotineiros como a simples mudança de um traçado viário na zona leste da cidade. Com isso, estão parados na pauta projetos importantes como o Plano Diretor, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e propostas controversas como uma "bolsa complementar" de R$ 3.000 para os profissionais estrangeiros que aderiram ao Programa "Mais Médicos" na periferia.

Vereadores governistas já falam abertamente da falta de habilidade e de visão política do prefeito Haddad no trato com a sua base de apoio. Enfraquecido após ter tentado desviar o foco de cobranças feitas ao Executivo para a Câmara, o que amplia o desgaste dos vereadores, como no caso da ocupação denominada Nova Palestina, ou em votações polêmicas posteriormente derrubadas na Justiça, o prefeito fez renascer no Legislativo paulistano o grupo do "Centrão".

Assim, refém da própria base, o prefeito sofre pressão crescente para ceder mais "espaço" aos vereadores e partidos que o apóiam, como PMDB, PTB, PR e PSD. Mesmo dentro da sua legenda, Haddad não encontra mais petistas preparados ou dispostos a defendê-lo com a veemência dos primeiros meses de governo.

O prefeito também perdeu seus dois principais articuladores políticos com a Câmara ao atender o pedido do ex-secretário e ex-vereador João Antonio de ser indicado ao Tribunal de Contas do Município e após ter sido obrigado a exonerar Antonio Donato, citado nas investigações da máfia do ISS.

Restam a Haddad, hoje, além da combalida e dividida bancada petista, dois ex-secretários que se mantém leais, como os vereadores Netinho de Paula (PCdoB) e Eliseu Gabriel (PSB), que saíram do governo por exigência da lei para disputarem a eleição de 2014, e vereadores alinhados que forem atendidos no chamado "varejo".

Para citar dois exemplos do tipo de pedidos que vereadores da base querem ver atendidos: a indicação de subprefeitos apadrinhados por eles no lugar dos técnicos de carreira nomeados por Haddad e inclusões no Plano Diretor de medidas pontuais que atendam a interesses específicos, como um aeroporto particular em Parelheiros, em plena área de preservação ambiental (onde deveria haver um parque).

Esse descaso com a implantação de parques em áreas já destinadas para esse fim, inclusive, é outro tiro no pé dado pelo prefeito. Ele, como é praxe de todo petista, investe na luta de classes ("pobre" x "rico") para justificar medidas ilegais ou impopulares, e tenta ressuscitar também outro conflito fora de moda: "movimentos de moradia" x "ambientalistas".

Foi resgatado o modus operandi do velho petismo, justamente por aquele que se elegeu sob a falsa promessa do "novo": movimentos sociais cooPTados e a "militância do lanchinho" convocada para fazer volume, pressionar e enganar os mais incautos. As bandeiras vermelhas desbotadas e emboloradas estão de volta às ruas. Palavras de ordem desafinadas, idem. Em frente à Câmara, pelo menos (veja aqui). Aonde isso vai chegar? Vamos acompanhar...