segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O "pós-PT" em ritmo de frevo com Eduardo Campos

Em palestra realizada na manhã desta segunda-feira (26), em São Paulo, a convite da empresa GPS e da RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) apresentou-se, de maneira ainda não declarada, à sucessão da presidente Dilma Roussef e como a opção mais qualificada para inaugurar o período "pós-PT".

A partir do slogan "É possível fazer mais; é possível fazer diferente", que vem apresentando na sua propaganda partidária, Eduardo Campos faz um diagnóstico preciso dos problemas do país, critica a atuação do PT no governo e a base de sustentação.

Ele combate também o que chama de "velha política" e a atual estrutura de poder. "São os mesmos personagens há décadas, não muda nada, são os mesmos nomes presentes desde o governo FHC, que retornaram a partir do segundo ano da gestão Lula e ali permaneceram", afirma. "Se bobear, vão continuar instalados esperando o próximo presidente..."

Para Eduardo Campos, há uma crise de liderança na política, nos partidos, no empresariado e na sociedade. Porém, as eleições de 2014 devem legitimar o início de um novo ciclo e a adoção de uma nova agenda para o Governo e para o Congresso ("bem diferente das eleições de 2010, que não tiveram nenhum conteúdo").

"As pessoas querem saber quem vai resolver seus problemas urgentes: é o caso da família que tem um cano estourado no teto da sua casa, em pleno fim-de-semana; na hora ela chama alguém para quebrar o gesso e fazer parar o vazamento", compara o governador. "Depois, durante a semana, é que vai pensar com calma no acabamento e em outros detalhes."

A "nova política" defendida por Eduardo Campos deve priorizar o diálogo com a sociedade, "olhando para o futuro". Segundo o pernambucano, Dilma perdeu a oportunidade de recuperar a confiança perdida, "dar o exemplo" e fazer as mudanças reclamadas pela população. "Falta narrativa, ou um encadeamento das ações da presidente, além de um planejamento estratégico", afirma.

"Onde queremos estar em 10 ou 20 anos?", essa é a pergunta que deve direcionar o próximo governo, na opinião do presidente do PSB, com um olhar diferenciado para a política e que esteja amparado nas demandas da sociedade. "As pessoas estão querendo uma integração social 2.0, enquanto o Estado ainda é analógico", critica.

O governador de Pernambuco conta ainda que chegou a sugerir à Dilma a redução do número de ministérios, como resposta mais direta e eficaz às manifestações de junho, no auge da crise, mas que foi ignorado. "Se tivesse reduzido de 39 para 20 ministérios, a presidenta tirava 19 ministros dessa gente que ela precisa se livrar", opina. "E ainda dos 20 restantes precisaria se livrar de mais alguns."

"Mas a presidenta perdeu a oportunidade, agora vai ser difícil recuperar essa confiança", afirma. "É como fazer uma feijoada, o governo tinha a receita e todos os ingredientes, mas colocou tudo na hora e na medida errada."

O fisiologismo e a busca de "maioria a qualquer custo" também mereceram críticas de Eduardo Campos. "É até compreensível esse comportamento dos partidos aliados; se o ritmo é frevo, não pode ser pagode pra um, samba pra outro: todos que estão no governo querem dançar a mesma música."

A oposição também não foi poupada. Questionado sobre as diferenças entre a sua "visão de país" e a do mineiro Aécio Neves (PSDB), Campos afirmou que "primeiro precisamos ouvir o senador e saber qual a visão dele". O risco, na sua opinião, é que Aécio seja "puxado para o passado", ou que votar no tucano signifique de alguma forma "reconhecer que o Brasil não melhorou nada nos últimos anos, o que não é verdade".

Além da análise política, o governador Eduardo Campos tratou de economia, política internacional, sustentabilidade, poder local, saúde e educação. Falou ainda em "coragem para enfrentar corporações". Não deixou nenhuma pergunta sem resposta, nem quando provocado pelo mediador Carlos Alberto Sardenberg a confirmar sua eventual candidatura. "O que precisamos é construir uma aliança de bom senso", afirmou.

Compartilhou algumas experiências do Governo de Pernambuco, principalmente nas áreas sociais. Relatou a implantação de duas universidades públicas: uma no agreste (Garanhuns), outra no sertão (Serra Talhada), formando médicos para atender a carência de municípios dessas regiões; defendeu a educação integral, avaliação do aprendizado, capacitação de professores e inovações como cursos intensivos de idiomas, com o custeio da viagem de alunos de origem humilde ao exterior.

"O custo de um desses nossos alunos, filho de um vaqueiro, de uma empregada doméstica ou de um desepregado, em países como Canadá, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, é de R$ 27.500 por seis meses, enquanto um menor infrator na Fundação Casa custa R$ 7.500 por mês, ou R$ 45 mil por esse mesmo semestre", compara.

Acompanhado pelo deputado federal Marcio França, presidente do PSB paulista, ex-secretário de Turismo do Governo de São Paulo e cotado para ser candidato a governador ou a vice de Geraldo Alckmin em uma aliança local com o PSDB, e pelo secretário do Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier, fundador da Rede Sustentabilidade com Marina Silva, o palestrante Eduardo Campos mostrou na prática porque é o governador mais bem avaliado do Brasil e deixou em todos a impressão de que é candidatíssimo à Presidência da República. A conferir.

Leia também:

As chances de Eduardo Campos (Renato Janine Ribeiro)

Movem-se as peças no tabuleiro eleitoral...

Como ficam os nomes da oposição para 2014?