sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Nas ruas e nas redes: o "novo" e o "velho" na política

Opinião de Guilherme Cortez, 15 anos, blogueiro político desde os 13, criador do iSustentare:

A concepção do Partido Popular Socialista se deu em um processo de ruptura. A dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1991, acabou por deflagrar o declínio do modelo comunista. Liderada por Roberto Freire, então presidente nacional da sigla, uma ala do Partido Comunista Brasileiro, conhecido como Partidão, alega que o comunismo se tornara uma ideologia ultrapassada e decide se desligar da agremiação. Os dissidentes do PCB decidiram fundar o PPS, um partido alinhado à doutrina social-democrata.

Em 2011, passados vinte anos do fim da União Soviética, tive a oportunidade de testemunhar a forma como o Roberto, agora presidente nacional do PPS, se mantinha um homem de rupturas. Entre novembro e dezembro daquele ano, entrei em contato com dezenas de personalidades da nossa política e da sociedade em geral. Estava divulgando meu recém-criado blog, o Brasil, país da fantasia, e buscava depoimentos daqueles que viviam a política brasileira. Enquanto a imensa maioria das personalidades que contatei não devem ter sequer lido minhas mensagens, o deputado fez questão de me responder prontamente.

Quando o povo brasileiro nem sonhava com as manifestações que sacudiram o país no mês de junho, o deputado Roberto Freire mostrava que sabia ouvir o grito dos jovens e estava aberto ao diálogo com as vozes da juventude. E essa postura do presidente nacional do PPS foi justamente a que mais me impressionou em todos esses anos de contato com a política.

Hoje, os jovens brasileiros fazem história exigindo mais respeito dos nossos políticos. Nunca esteve tão claro que chegara a hora da nova política ser colocada em prática. O PPS idealizou uma plataforma, a #REDE23, cujo objetivo era estudar e trazer ao partido a voz dessa nova forma de se fazer política.

Faltando pouco mais de um ano para as eleições de 2014, as agremiações partidárias já estão a todo vapor tecendo suas alianças – muitas delas, espúrias. 

Enquanto o Partido dos Trabalhadores procura alternativas para reeleger a presidente Dilma Rousseff, o Partido da Social Democracia Brasileira parece decidido a apostar tudo que tem na candidatura do senador Aécio Neves e o Partido Socialista Brasileiro tenta viabilizar a candidatura do seu presidente nacional, o governador Eduardo Campos, um quarto nome desponta como alternativa da nova política: Marina Silva, que está criando a Rede Sustentabilidade, um novo partido político cuja plataforma defende a “democratização da democracia”, o que remeteria à um regime político que desse mais representatividade ao povo e menos poder aos políticos eleitos em campanhas milionárias.

Um quinto candidato seria o ex-governador José Serra, que cogita trocar de partido para viabilizar sua candidatura. Na política desde 1962, o nome de Serra não se encaixa, nem de longe, no perfil do brasileiro que foi às ruas exigir mudança. Além disso, o ex-governador figura em um escândalo de corrupção revelado recentemente pela revista Isto É. Sua candidatura seria mais um indicativo de que os políticos brasileiros não sabem ouvir a voz que emergiu das recentes manifestações.

O partido que rompeu com o comunismo quando o mesmo parecia se mostrar inviável deveria ser o primeiro a deixar a velha política de lado. Dentre os cinco nomes que preparam o terreno para a eleição de 2014, o de José Serra é o que mais representa essa política ultrapassada; o de Marina Silva é, sem dúvida, o que mais remete ao novo, à mudança pela qual o povo tanta clama.

Serra tem procurado alguns partidos que poderiam servir de trampolim para sua candidatura. O PPS é um deles.

Uma ala do partido se vê seduzida pela ambição do ex-governador de São Paulo. A candidatura de Serra pelo PPS trará, sem dúvida alguma, alguns milhões de votos, mas aquele que considerava ser o partido da ruptura se mostrará mais um reduto do velho e do ultrapassado.