quinta-feira, 27 de junho de 2013

Como o PT manobra para aprovar CPI "chapa-branca"?

O que todo mundo já noticiou: havia duas propostas de CPI do Transporte Público protocoladas na Câmara Municipal. A primeira, desde fevereiro deste ano, do vereador da base governista Paulo Frange (PTB); a segunda, no contexto das manifestações ocorridas nas últimas semanas, do vereador Ricardo Young (PPS); e, desde ontem, uma terceira, quando o PT finalmente cedeu às pressões da opinião pública e percebeu que uma CPI seria inevitável, apresentada pelo próprio governo, do petista Paulo Fiorilo (ex-chefe de gabinete da prefeita Marta Suplicy, ex-presidente do PT paulistano e coordenador da campanha presidencial de Lula).

O que ninguém noticiou, ainda, que ocorre nos bastidores da Câmara: em vez de prevalecer a ordem cronológica dos pedidos, ou serem analisados e votados um a um, o PT faz mais uma manobra regimental para que o seu pedido - o último apresentado - seja votado e aprovado: a assessoria do vereador Paulo Fiorillo está desde às 6h da manhã na "fila" do protocolo, que será aberto no início da sessão, às 15h, para que o pedido de "preferência" da CPI "chapa-branca" seja votado em primeiro lugar.

Com essa manobra - graças às 9 horas em uma "fila" virtual - o PT completa a encenação: aprova uma CPI, justificando ouvir a "voz das ruas", que clama pela abertura da "caixa preta" do sistema de transporte em São Paulo, ao mesmo tempo em que tenta manter o controle sobre as investigações - o que não estaria garantido nas mãos de um vereador não cooPTado pelo governo. E também evita o desgaste político de justificar a rejeição ao pedido de Ricardo Young, apoiado pela opinião pública.

Veja que o PT mudou de posição em 24 horas. Primeiro era totalmente contrário à CPI, com o governo e os vereadores da base garantindo que todas as informações do sistema, planilhas de custos etc. já estavam à disposição da Câmara e da sociedade. Tanto que o secretário de Transportes Jilmar Tatto afirmou, em nome do governo Hadadd, que uma CPI serviria apenas para "achacar os empresários do setor".

Percebendo a bobagem dita, que constrangeu os vereadores e fez aumentar a presença de manifestantes pró-CPI na Câmara, o governo mudou radicalmente a estratégia: decidiu "responder à sociedade" (aham!) e aprovar a CPI tão reivindicada, desde que, obviamente, mantivesse o controle sobre a comissão.

O discurso oficial: a CPI proposta pelo PT, ao contrário dos pedidos anteriores, é a única que tem um "escopo claro" (nas palavras de Paulo Fiorilo), ou seja, "discutir as planilhas das concessões e entender o custo do sistema". Como se não fosse este o mesmíssimo objetivo dos requerimentos de Paulo Frange e de Ricardo Young  - a não ser pelo fato de serem menos palatáveis ao governo do que ter o vereador Paulo Fiorilo na presidência.

Outra manobra ainda possível, para alegar uma suposta "independência" e "isenção" da CPI, é o PT abrir mão da presidência e entregá-la a outro vereador da tropa-de-choque governista; por exemplo, Dalton Silvano (PV) - que de opositor ferrenho da gestão de Marta Suplicy (2001/2004) passou a ser um dos mais fiéis e confiáveis aliados do PT.

Se não bastasse a declaração infeliz do secretário Jilmar Tatto (irmão de dois vereadores da bancada petista: o novato Jair Tatto e o líder do governo na Câmara, o veterano Arselino Tatto), foi ele próprio o responsável e signatário dos contratos de transporte ainda em vigor, licitados na gestão de Marta Suplicy, continuados nas administrações de José Serra e Gilberto Kassab, e que seriam submetidos à nova licitação agora, pelo prefeito Fernando Haddad, cancelada ontem por alegada "falta de transparência". Vai entender...

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